terça-feira, 7 de agosto de 2018

Número de escolas públicas “militarizadas” no país cresce sob o pretexto de enquadrar os alunos

Total de escolas geridas pela PM cresceu 212% em cinco anos. O Sudeste é a única região onde não há colégio militarizado. o primeiro deve ser criado no Espírito Santo.

Ítalo Cardoso, de 9 anos, apertou ligeiramente o passo no começo daquela tarde de 14 de junho. Ele não queria chegar atrasado à escola. Um minuto de atraso poderia lhe render uma anotação de infração no boletim escolar. Ao se aproximar do colégio, Ítalo ajeitou a farda com destreza. Enquanto caminhava em direção a dois militares para bater continência, assentou na cabeça a boina marrom, limpa e bem asseada, para que nenhuma ponta de cabelo ficasse à mostra. 

Na porta da escola, um militar parrudo fez uma breve revista no menino e o liberou para se juntar a 700 colegas que se encontravam em fila indiana e divididos em dois pelotões. Gritos de guerra, hasteamento da bandeira e hinos nacionais deram continuidade ao ritual de entrada de Ítalo na escola, similar ao de um quartel.

“Quartel”, aliás, é a palavra usada pelos oficiais da Polícia Militar de Goiás para se referir ao Colégio Estadual Waldemar Mundim, na periferia de Goiânia, onde Ítalo cursa o ensino fundamental. A rotina diária dos alunos do Waldemar Mundim é militar, como mostra a “primeira revista” feita por dois militares na porta da escola, que costumam barrar meninas com esmalte nas unhas ou cabelos soltos e rapazes com costeleta fora do padrão ou barba e bigode por fazer.
A “segunda revista” é feita pelos próprios alunos, liderados e auxiliados por PMs. Cada pelotão tem um chefe de turma — responsável pela chamada —, um comandante de companhia e um chefe-geral, que recebe a chamada e a passa para um militar responsável. “Os alunos ajudam a fechar a fiscalização. Olham o cabelo, barba, sapato. Um deles fica encarregado dos atrasados, que são encaminhados para uma segunda chamada. É feita então uma apresentação para o militar que destina cada atrasado para a sala de aula. É como num quartel”, explicou o tenente-coronel Luzimário Guimarães, comandante diretor do Waldemar Mundim.
A sala do tenente-coronel é adornada por 30 cabeças de caveira de plástico e metal. É nesse espaço que ele recebe os pais para tratar das sanções aplicadas aos alunos. Nos dias em que a reportagem de ÉPOCA visitou o colégio, o comandante diretor exibia com orgulho sua nova conquista para reforçar a segurança da escola, que já era patrulhada internamente por militares ostensivamente armados: um recém-implantado sistema de videomonitoramento, que instalou uma câmera em cada sala de aula a fim de controlar os alunos em tempo integral . “Havia muito furto de pulseira, relógio, celular”, disse Guimarães. “Colocamos a câmera para combater esses furtos.”


Fonte: www.epoca.globo.com                     

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